Jornal Vicentino: Personalidades – Condesmar Marcondes

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Jornal Vicentino: Personalidades – Condesmar Marcondes

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Médico ginecologista, especialista em reprodução humana, Condesmar Marcondes de Oliveira Filho é um santista nato, que fala com amor da Cidade e com um brilho no olhar de sua profissão. Durante entrevista, em sua Clínica, ao Jornal Vicentino, Condesmar revelou sonhos, falou de suas expectativas em relação ao avanço da medicina e sua ambiguidade. Mencionou assuntos delicados como a depressão pós-parto e esclareceu o universo da reprodução assistida.

Muitas famílias passam por situações onde a medicina se faz necessária. Uma delas é quando o casal não consegue ter filhos. Hoje, as técnicas de fertilização estão bastante avançadas e centenas de crianças geradas em laboratório já dividem os bancos escolares na cidade. O médico Condesmar Marcondes sabe bem como resolver essas questões. Especializado em reprodução humana, já trouxe ao mundo centenas de bebês por inseminação artificial ou fertilização in vitro (o chamado bebê de proveta, método mais utilizado e com maiores chances de sucesso). Atua em todas as maternidades de Santos.

Além de sua vida profissional o ginecologista falou também de sua vida pessoal, suas pretensões, sonhos e realizações. Contou como resolveu seguir a carreira de médico e o quanto isso lhe trouxe realizações. Comentou também sobre os tipos de parto e como o Brasil está na contramão dos países desenvolvidos. Leia a entrevista a seguir.

 

Jornal Vicentino – Onde nasceu? E quais são suas lembranças da infância?

Condesmar Marcondes – Eu sou do Mercado e descendente de árabe. Minha família como todos os descendentes vieram para o Brasil nos anos 1902 e se instalaram no Mercado. Não sei exatamente de onde eles vieram, mas sei que minha família era libanesa, mas sei que todos eram comerciantes. Sou filho único e tenho um irmão por parte de pai. Eu tenho nas minhas lembranças nadar com os golfinhos e até hoje meus filhos me perguntam se realmente eu fazia isso. Remava para a praia do Góes ao lado de golfinhos. Atravessava para Pouca Faria para pegar siri patola. Essas são as lembranças, saudades e vontade que eu tenho de que ainda essa Cidade irá voltar a ter isso. Acho que a infância mudou muito, andava na Rua Sete de Setembro, em uma época que não existia violência.

 

JV – Quando o senhor optou por fazer faculdade de medicina e porquê?

Marcondes – Eu decidi ser médico quando estava entrando para o primeiro colegial. Fiz química no Santista, naquela época podia optar por química, então eu sou químico porque quando eu entrei no primeiro ano do curso decidi ser médico. Ao mesmo tempo eu fiz química a noite e colegial durante o dia, para poder me preparar para a faculdade. Enfim, esse era o meu objetivo, meu sonho que continua até hoje.

 

JV – Por que a área de Ginecologia e mais tarde a especialização em Reprodução Humana?

Marcondes – A reprodução é um negócio interessante. Foi por causa do dono do Casa Tavares Pássaros, o Tavares. Foi ele quem me ensinou a criar passarinhos, sou criador de canários. A partir daí passei a criar canário, peixe, pombo, já criei tudo que possa se imaginar. Era natural que eu fosse selecionado. Para quem cria canário é mais fácil de entender porque eu acordo três quatro horas da manhã para dar de comer para os filhotes, porque o pássaro é super selecionado e se ficar uma noite sem comer morre. Então tenho que acordar para dar comidinha na boca dos filhotes. Então era natural que eu fosse selecionado para mexer com embrião um cara que faz isso às três da manhã, foi natural. Fui fazer laboratório de reprodução. Como eu sou químico também me acostumei a trabalhar em laboratório. Gosto de criar e isso me levou para a reprodução. Durante alguns anos trabalhei dentro do laboratório, era eu quem trabalhava os óvulos, os espermatozoides e os embriões, hoje já bem menos. Na prática é impossível fazer tudo sozinho e por isso eu passei a fazer laboratório de reprodução, foi uma sequência.

 

JV – O senhor é um dos defensores do parto natural. Por quê?

Marcondes – Eu trabalho para o século XXI, que é fertilização in vitro e bebê de proveta. Parto é Adão e Eva, mais ou menos isso. Tinha um professor que dizia que se a natureza tivesse evoluído e lugar de bebê nascer fosse na barriga, possivelmente o cara lá de cima teria colocado um zíper, para você abrir e passar. Deve haver um porque dos bebês nascerem por baixo. O único país no mundo que contraria, e a não ser que me provem que os alemães são imbecis e que os espanhóis não prestam, é o Brasil. Na Inglaterra, na França, na Suiça, todos fazem o parto normal, não é novidade, a novidade que existe no Brasil é que é possível fazer parto natural sem sentir dor. Porque não usar a sabedoria dos outros que é: tenha como a natureza te colocou porque tudo aquilo que a gente modificar vamos errar. O ideal seria que 90% das mulheres fizessem parto normal, os outros 10% seriam cesarianas que têm suas indicações, como um nenê sentado ou que se atravessou, por exemplo. O que acontece no Brasil é que nós médicos e pacientes nos acostumamos errados. Acho uma sacanagem falar para uma paciente, por exemplo, de 18 anos de idade que é muito nova e precisa fazer cesária, ou você é muito velha e cesária. Isso não é verdadeiro, é picaretagem.

 

JV – Então por que acontece esse enorme índice de cesárias (90%) no Brasil?

Marcondes – Não é pelo dinheiro porque o custo dos dois é praticamente o mesmo. A Associação Médica Brasileira tentou até colocar o parto normal recebendo mais do que a cesária. Mas é aquela coisa: tenho três empregos, então não dá tempo porque tenho que correr para outro lugar. Eu não acredito nisso. Por isso não tenho emprego, para mim meu emprego é meu cliente. Se a paciente precisar de mim durante 12 horas, vou estar com ela as 12 horas. Acredito em médico sentado do lado da cama e isso é século dezoito.

 

JV – A medicina vem evoluindo diariamente. Como o senhor vê essas conquistas?

Marcondes – Quando eu comecei, bebê de proveta era uma evolução, foi em 1978. Quando eu comecei a fazer bebê de proveta a gente tinha 15% de resultados, o que significa que de cada 100 pacientes, 15 engravidavam. As outras tinham que ficar repetindo o processo até chegar lá. Hoje, os resultados estão variando entre 40 e 50%. Eu acredito que a tendência disso é subir. As nossas técnicas, de meio de cultura para criar embriões melhoraram bastante. E o diagnósticos de doenças genéticas, como hemofilia e coisas do tipo evoluíram muito. Eu não me considero um médico e sim alguém que está fazendo ciência. Mas o grande “boom” são as células tronco e recentemente a descoberta que no líquido amniótico existem essas células. Eu trabalho com células tronco embrionárias e se puder trabalhar com ela do líquido amniótico será uma maravilha, porque eu faço parto e jogo no lixo o líquido, sem contar que não há questionamentos de nenhuma forma. Se eu puder ter acesso a essa célula do líquido vou trabalhar com isso, pois já tenho o laboratório de embriões e de células tronco. Esse é o futuro em que eu me sentiria realmente médico. O que eu penso é que estamos pegando uma geração que está descrita em uma frase que li do Joelmir Betting: “Eu queria ser meu neto”. Porque imagine o que vai ser possível fazer lá na frente. Por isso que eu acredito em medicina.

 

JV – Existe uma certa lenda de que na maioria dos casos a mulher é quem não pode ser mãe. Isso é real?

Marcondes – Não. Hoje sabemos que isso gira mais ou menos em 50%. Antigamente era 100% mulher, culturalmente falando. A evolução da reprodução evoluiu nos últimos tempos justamente por causa do homem. Eles antes se recusavam a fazer exames e hoje não existe mais isso. O homem que fez vasectomia por exemplo, teve que se submeter a alguns procedimentos e aí a reprodução deu outra evolução que se chama injeção de espermatozoide dentro do óvulo.

 

JV – Existem uma faixa etária ideal para se submeter a Reprodução Assistida?

Marcondes – Se você de novo pensar no passado as pessoas engravidavam com 15, 16 anos, hoje em dia estão querendo engravidar com 45. O que eu digo é o seguinte: quanto mais cedo melhor. Os procedimentos de reprodução humana após os 45 anos acontecem, mas com uma grande queda. As tentativas acima de 40 anos de idade nos leva a quase 0% de resultados. No resultado hoje está em 50% de gravidez com bebê de proveta, em uma mulher de 42 anos ele fica abaixo de 3%. A natureza começa a bloquear a gravidez. A grande faixa para se engravidar é entre 28 e 35 anos. A partir dos 35 anos da mulher começa a aumentar a síndrome de Down, os abortamentos por erro genético ou então simplesmente não engravidar. Por mais de 10 anos eu nunca fui procurado por um marido, hoje em dia os maridos vêm se consultar comigo primeiro. Ele consulta, faz o diagnóstico dele e pronto. Esse conceito também é dos médicos, que têm que se acostumar que não é porque o cara tem poucos espermatozoides que ele não pode ter filho. Pode ser só um e ainda assim conseguir.

 

JV – Quais são os principais métodos de reprodução e quais as diferenças entre eles?

Marcondes – A inseminação é grosseiramente o depósito do espermatozoide na vagina, no dia em que a mulher está fértil, e têm que subir até a trompa para encontrar o óvulo. Separo os bons dos ruins e quando eles se encontra com o óvulo não dá para saber se vai penetrar no óvulo e gerará um bebê. Bebê de proveta é diferente. Eu pego o óvulo e pego o espermatozoide e coloco dentro dele. Aí depois de 48 horas pega-se o bebê que se formou e põe dentro do útero da mulher. Assim eu sei a qualidade do bebê e sei com uma certeza maior que ela irá engravidar. Os dois tratamentos levam mais ou menos 30 dias. Nesse período a gente sabe se a mulher está grávida ou não.

 

JV – O tratamento ainda é restrito a uma parcela da sociedade, pois tem um custo alto. O senhor acredita que a população mais carente terá acesso aos tratamentos?

Marcondes – Hoje já não é tão caro como era antigamente, o que acontece é que as técnicas se sofisticam cada vez mais. É verdade que ainda não dá para o povo, mas é relativamente viável. Nos serviços públicos existem grandes filas de espera, com dois, três, quatro anos de espera, mas existe. Não acredito em grandes baixas de preço, mas aquilo que é um absurdo no futuro não será. Tenho um questionamento comigo que é o seguinte: pega o número de mulheres que fizeram cirurgia plástica de mama e compara o gasto médio que gira em cerca de R$ 10 mil. Esse é o custo de um bebê de proveta hoje. Então na classe média a possibilidade já chegou, porque esse não é um custo absurdo se comparado a outros segmentos. Santos é considerada a cidade padrão para a cirurgia plástica. É a cidade brasileira referência em cirurgia plástica e acredito que eu consiga a mesma coisa com reprodução humana.

 

JV – A depressão pós-parto é uma questão que afeta cada vez mais as mulheres. Qual sua opinião sobre o assunto?

Marcondes – Eu acho que aumentou o número de mulheres com a depressão, mas aumento o estresse da sociedade do dia-a-dia. A depressão pós-parto já existia, só que se diagnosticava-se de outras formas. Ela é real, assim como a gravidez psicológica também é. Pode ocorrer esse tipo de depressão por vários motivos, como a força da preocupação de ter que amamentar, tem que dar certo, trabalhar e cuidar do nenê, limpar a casa, enfim a cobrança da sociedade em cima da mulher aumentou muito. Antigamente as avós ficavam em casa fazendo tricô, e nisso está o aumento dos casos. Outro lado são os diagnósticos errados, hoje há uma melhora nisso. Os sintomas são diferentes em cada caso. Pode aparecer em três, quatro dias após o parto e as vezes pode demorar meses. De modo geral leva de 15 a 30 dias de depressão, que é a fase da mulher se adaptar ao bebê. O ideal é procurar o obstetra e de um modo geral um psicólogo ou um psiquiatra.

 

Fonte: Jornal Vicentino

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2017-02-03T12:30:52+00:00 15/05/2015|Categories: Mídia|0 Comentários

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